“A arte não é apenas um reflexo do mundo, mas um pulsar vivo que se entrelaça com os corpos, com os tempos e com os espaços. Como um fogo aceso, não apenas por mãos criadoras, mas pela urgência de encontros, pela força coletiva e pela chama das ideias compartilhadas.” Com essa provocação, e na busca pela valorização e visibilidade da arte feita por pessoas trans e mulheres lésbicas, bi e pansexuais, é que a Mostra Brasas estreia em 8 de novembro.
Projeto da Associação Artes Sapas e Fanchecléticas, com a parceria da Basuras coletiva, viabilizada com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte, a Mostra Brasas reúne 27 artistas LBT em três exposições presenciais com obras da Grande BH, que vão ocupar os espaços alternativos do Teatro 171, da Casa de Referência da Mulher Tina Martins e da aKasulo - Centro de Convivência LGBTQIA+, com entrada gratuita. Ainda, uma exposição virtual apresenta trabalhos de todo o Brasil, compiladas no site.
Além das exposições presenciais e on-line, a Mostra Brasas conta com programação repleta de ações, oficinas e performances. “Serão três dias de encontros, um em cada espaço, trazendo oportunidades para nos reunir, trocar entre os artistas e nos afetar pessoalmente”, convida Letícia Bezamat, artista da Coletiva Fanchecléticas.
Transmutação
Em um período em que o fogo é usado de maneira criminosa para tentar conter a natureza, tão castigada pelas secas e demais resultados devastadores da ação do homem, a Mostra Brasas também vem para relembrar o potencial transformador e de transmutação do fogo, uma metáfora para o poder da arte de inspirar e provocar significativas mudanças na vida das pessoas.
Éle Fernandes, artista e representante da Associação Artes Sapas, afirma que cada obra exposta carrega em si um pedaço desse processo criativo que não se conforma, que busca nos resíduos e nos fragmentos das experiências de cada artista a possibilidade de reinvenção.
“Brasas é um convite para sentir, para perceber as faíscas de vida e esperança que se acendem em cada gesto criativo; um convite para que o público se aproprie desse fogo, se aqueça e, ao mesmo tempo, seja tocado pela intensidade de trabalhos que não se limitam, mas que se expandem e se reinventam a cada encontro, em que o brilho das brasas não se apaga, mas segue eternamente vivo, ilumina, aquece, provoca, constrói”, descreve.
Recorte
Éle conta que o projeto surge da necessidade de ambientes seguros para as narrativas de corporalidades dissidentes. “Brasas materializa nosso desejo de criar espaços compartilhados, em que a diversidade de vozes e formas de expressão possam ser celebradas e o público possa se engajar de maneira significativa com as obras”, detalha.
As coletivas explicam que é necessário criar um recorte para artistas LBT+ (mulheres lésbicas, bi e pansexuais e pessoas trans) porque isso possibilita o destaque para vivências destas coletividades, que são comumente invisibilizadas em espaços políticos, sociais, culturais e artísticos.
“Acreditamos nesse recorte do público para facilitar conversas, trocas de conhecimento e experiências dentro desses universos, que por mais que tenham muitas coisas em comum, ainda têm muito a se conhecer e produzir de Linguagem e Política dentro do nosso país”, completa Letícia Bezamat.
Artes Sapas e Fanchecléticas
A Associação Artes Sapas impacta diretamente o fazer de artistas lésbicas, bissexuais e pessoas trans, travestis e não-binárias, promovendo trabalhos e valorizando sua arte. A coletiva de artistas desta associação, as Fanchecléticas, desenvolve trabalhos artísticos e promove parcerias e atividades socioculturais.
O grupo também gerencia um ateliê de serigrafia e a Loja Brechas, com produção e venda de roupas e artefatos que auxiliam na sustentabilidade financeira da instituição. Ainda, no núcleo de pesquisa e memória, são produzidas e arquivadas informações e saberes sobre Arte e Política LGBTQIAPN+.
Basuras
Basuras é uma coletiva latino-americana que produz conteúdos elaborados a partir de uma perspectiva transfeminista e anticapitalista de assuntos diversos como Meio Ambiente, Política, corpas dissidentes, autonomia popular, Direitos Humanos, entre outros.
A coletiva foi fundada por Bea Lake e Gabriela Giannini durante as eleições presidenciais de 2018, levando para as ruas campanhas informativas sobre Política e combate às fake news. Desde então, o grupo desenvolve zines, lambes, informativos, audiovisuais, oficinas e intervenções urbanas.
Artistas que participam da Mostra Brasas, por espaço:
aKasulo - Centro de Convivência LGBTQIA+:
Anti 01, Bê de Sá, Cecília Castanha, Kaus Total, Lucas FMQ, Mayara Smith, Stefane Bernardo;
Casa de Referência da Mulher Tina Martins: Daphne Cunha, Isabella Haru, jomaka, Lê Góis, Lorena Lua, Tita;
Teatro 171: jomaka, Bruni Emanueli, Iêda Carvalho, Leonor Dourado, Marília Lima, Princezinha da Paz, Ser Rio, Trans Preto;
Mostra on-line: Ariell Guerra, Lucimélia Romão, Mó Missão Dance, Pavuna Kid, Sun Sarara, Yaya Ferreira.
Todas as atividades são gratuitas. Detalhes e mais informações podem ser conferidos no Instagram das coletivas @artes_sapas, @fanchecleticas e @basurassss, e no site fanchecleticas.com/brasas.
SERVIÇO:
O Quê? Mostra Brasas - exposições de artes visuais LBT
Quando: de 8 de novembro a 1º de dezembro de 2024,
todas as quintas, sextas e sábados, das 15h às 20h.
Locais, endereços e classificação indicativa:
aKasulo
Rua Agnelo Macedo, 234, Barreiro.
Classificação 16 anos
Casa Tina Martins
Rua Paraíba, 641, Santa Efigênia.
Classificação 14 anos
Teatro 171
Rua Capitão Bragança, 35, Santa Tereza.
Classificação 18 anos
E no site fanchecleticas.com/brasas.
Classificação livre
Oficinas
Stencil: dia 20/11, quarta,
a partir das 15h, na aKasulo, público a partir de 16 anos
Serigrafia: dia 23/11,
sábado, a partir das 9h, na Tina, público a partir de 14 anos
Inscrições nos dias das atividades,
30min antes do início da programação.
Rolê das Brasas
Encontros presenciais com os artistas, bate-papos e intervenções artísticas
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Sexta, 8/11, das 20h às 23h, no Teatro 171, público a partir de 18 anos
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Sábado, 23/11, das 11h às 19h, na Casa Tina Martins, público a partir de 14 anos
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Domingo, 1º/12, das 14h às 20h, na aKasulo, público a partir de 16 anos
Atividades gratuitas
Mostra de artes visuais Brasas propõe recorte da cena contemporânea com obras de artistas trans e mulheres lesbipan de Belo Horizonte e de todo o país